Saudações Nobres Almas



Os góticos têm um estilo, uma filosofia de vida um tanto particular, em virtude deste facto, à volta desta "tribo urbana" pairam muitos estereótipos e preconceitos que não correspondem de todo à realidade.!!! São, geralmente, identificados na rua por vestirem roupas pretas, bem como pelos penteados e maquilhagens um tanto dramáticos, ou por ouvirem, em regra, música mais pesada e com letras um pouco obscuras...Contudo, não é verdade que os góticos são seres com tendência para a depressão, que vivem obsecados com a morte, que se auto-mutilam, que participam em práticas satânicas e vampíricas, entre muitos outros comportamentos que são atribuídos a este grupo social.!!!Os Góticos são na realidade, em regra, pessoas com uma grande sensibilidade, exercendo de alguma forma uma participação activa na sociedade, evidenciando, por exemplo, através das várias formas artísticas aquilo que pensam sobre o mundo que os rodeiam, não ficando alheados a este. São marcados por uma grande nostalgia e um pouco de melancolia, dado que têm a perfeita consciência do rumo inevitável e fatal que espera todos os seres vivos. Este aspecto leva-os a procurar locais onde o silêncio predomine, propiciando a reflexão sobre os seus sentimentos e sobre o que os rodeia, mas, também, que os permita contemplar elementos arquitectónicos, decorativos que constituem as diversas obras contruídas pelo Homem (não frequentam, apenas, cemitérios, mas sim todos os locais onde impere a cultura).Os góticos não são introvertidos, anti-sociais como muitos julgam, são, na verdade, pessoas que gostam de conviver, partilhar experiências e conhecimentos, bem como aceitam cada um com as suas diferenças, singularidades e sem preconceitos.! Os góticos são pessoas como as outras, gostando das coisas que todos os outros gostam, vivendo e trabalhando como todos os outros cidadãos, têm é, proventura, uma atitude mais crítica, um estado de espírito mais aberto!!!.Porém, não se é gótico pelo simples facto de se vestir preto (quem o faz é somente um "pseudo gótico"). Ser-se gótico é mais do que uma maneira de vestir, é uma forma de pensar e de viver.! Seguramente que existem muitos góticos que se consideram como tal, mas, que se calhar não o são efectivamente, bem como, que existem outros que talvez , ainda, não se tenham apercebido que o sejam.
Até porque, de alguma forma, nasce-se gótico !





segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Crônicas


Ah, o coração...


coração


Acho uma pena que falar em coração tenha se tornado uma coisa tão antiga.Mas o fato é que tornou-se.Coração dilacerado, coração em pedaços, coração na mão…
Sentimos tudo isso, mas a verbalização soa piegas.
E, no entanto, estamos falando dele, do nosso órgão mais vital, do nosso armazenador deemoções, do mais forte opositor do cérebro, este sim, em fase de grande prestígio. O que está em alta? Inteligência, raciocínio, lógica, perspicácia! Gostamos de pessoas que pensam rápido, que são coerentes, que evoluem, que fazem os outros rirem com suas ironias e comentários espertos. Toda essa eficiência só corre risco de desandar quando entra em cena o inimigo número 1 do cérebro: o coração.
É o coração que faz com que uma super mulher independente derrame baldes de lágrimas por causa de uma discussão com o namorado.É o coração que faz com que o empresário que precisa enxugar a folha de pagamento relute em demitir um pai de família.É o coração que faz com que todos tremam seus queixinhos quando o Faustão põe no ar o quadro arquivo confidencial!
Eu gostaria que o coração fosse reabilitado, que a simples menção dessa palavra não sugerisse sentimentalismo barato, mas para isso é preciso tratá-lo com o mesmo respeito com que tratamos o cérebro, e com a mesma economia.
Se a expressão “beijo no coração” é considerada “over", voltemos a ser simples. Mandemos beijos e abraços sem determinar onde; quem os receber, tratará de senti-los no local adequado.

Martha Medeiros


Saudades – Clarice Lispector


Saudades – Clarice Lispector

Saudades
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades…
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei…
Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser…
Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro…
Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser…
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!
Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!
Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.
Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências…
Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,
Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que…
não sei onde…
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi…
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês…
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.
Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados…
para contar dinheiro… fazer amor…
declarar sentimentos fortes…
seja lá em que lugar do mundo estejamos.
Eu acredito que um simples
“I miss you”
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.
Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.
E é por isso que eu tenho mais saudades…
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.
Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência…

- Clarice Lispector

Fragmento de Clarice Lispector

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso:não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternuraque havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer. 

Clarice Lispector


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